terça-feira, 28 de novembro de 2023

RALLY MG CLUB - CAMPOS DO JORDÃO 2023 - O ACERTO DE ANTIGAS DÍVIDAS




Lá se vão onze anos desde a minha primeira prova de rally, a bordo do Fuscão 74. A partir de então, ajudei, junto com os amigos do CVA-MG, a formentar a cultura do rally clássico aqui em Minas, sempre me inspirando no que fazia o MG Club, na figura do então presidente, meu xará Luiz César. Trocamos muitas ideias por e-mail, sempre com a minha promessa de participar de um evento deles, que acabou não se materializando na época por problemas de agenda, meninos pequenos, logística complicada, etc. Mas a admiração ficou e, mesmo após o seu falecimento, eu me sentia em débito com o clube que criou e fortaleceu essa cultura aqui no Brasil.

Alinhado para a largada da prova noturna do evento do clube mais charmoso do Brasil

Por outro lado, embora todo mundo saiba que ele seja o xodó aqui da garagem, eu nunca havia escalado o Fusquinha para um rally, seja pela baixa potência do 1300, seja por ele eventualmente não estar em sua melhor forma por ocasião de alguma prova que organizamos. Mas, agora em 2023, tudo deu certo! Fusquinha maravilhosamente revisado pelo Guilherme Machado, prova com fator de correção que tenta equiparar as forças de um carrinho com mais de 50 anos com um modelo dos anos 90 e... pé na estrada!

Não foi fácil perseguir as médias à noite, em trechos extremamente sinuosos

Vencidos os 490km de casa até Campos do Jordão, o Felipe, meu navegador, estava louco para faturar um troféu e se igualar ao André que, a bordo da Caravan, tinha chegado em terceiro no Raid da Liberdade, em 2020. Na prova noturna, ainda meio desentrosados, conseguimos levar o Fusca a um honroso quarto lugar, apenas 2 pontos atrás do terceiro! Mas foi no dia seguinte, na prova principal, é que nosso time brilhou pra valer! Mesmo com as limitações naturais do motorzinho 1300, carro, piloto e navegador erraram pouquíssimo (quase não teve o tradicional bate-boca durante a prova!), levando os mineirinhos aqui a consquistarem o segundo lugar no rally clássico, atrás apenas de uma BMW 320 1976.

Na prova diurna, o Fusquinha ficou mais à vontade

O evento em si foi fantástico, com carros muito emblemáticos embelezando as estradas sinuosas da região - menção especial para um Corvette Sting Ray Split-Window 1963, um Triumph TR4 IRS 1966, um Mustang Boss 302 1969, dois MGB (um roadster 1973 e um GT 1974), um Porsche 911 1977, vários Mercedes e BMW, uma Kombi T3 Wasserboxer, além de outros dois Fuscas, um Puma, um raro Adamo e alguns nacionais dos anos 90. Menção especial também ao Opala SS 1977 do meu amigo Gustavo Brasil que, incentivado por mim, também foi de BH até Campos do Jordão conhecer o evento do MG Club e voltou para casa com um troféu de terceiro lugar no rally diurno.



                                        

O fator de correção (handicap) valorizou a idade e a menor cilindrada do VW

Final de evento, mais 490km de volta para casa, totalizando 1200km de sorrisos a bordo do carrinho que me conhece desde que nasci. Dívida paga, ele já tem um troféu para chamar de seu. Dívida paga também com meu xará Luiz César que, de onde estiver, estará dando risadas das nossas aventuras no evento do clube ao qual ele tanto se dedicou. Seu legado está mais do que seguro nas mãos dos outros veteranos do MG Club e dos entusiastas que estão chegando.

                                        

Troféu nas mãos, já pensando no próximo!

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

SERRA DA CANASTRA 2021 - O ENCONTRO DO AUTOMÓVEL COM SUA VOCAÇÃO

Alguém consegue pensar em uma imagem mais emblemática?

Foi por volta de 2015 que eu comecei a me mobilizar para realizar meu sonho de adolescente de ter um Niva. Dos 13 aos 16 anos, era o meu objetivo de vida um dia ter um desses simpáticos jipinhos soviéticos. Naquela idade, a vida passa muito devagar e, aos 44, ao olhar para um período tão curto, é difícil acreditar que 3 anos foram aquela eternidade toda.

O Niva na Canastra: será que o soviético iria dar conta?

Pois foi há exatos 3 anos, em novembro/18, que o sonho se materializou (depois de 3 anos de garimpo!) no Niva Pantanal vermelhinho, tratado a pão-de-ló desde a sua compra. Desde então, já foram diversos encontros, passeios e até participação no Raid Estrada Real de 2019, em Tiradentes. 


Carro antigo e paisagens deslumbrantes: combinação perfeita


Mas ainda faltava algo. Faltava jogá-lo na terra e ver do que ele é capaz. Pesquisa daqui, matuta dali e a oportunidade se materializou na expedição à Serra da Canastra organizada pelo Fora da Estrada BR, exclusiva para Veiculos 4x4.
O percurso alternou estradas de terra em ótimas condições com caminhos que só mesmo um 4x4 poderia vencer

Inscrição feita, pouco mais de 300 km de asfalto percorridos e chega a hora de se integrar aos outros 11 jipes da expedição - 3 Jimny, 3 TR4, 1 Pajero Full, 1 Pathfinder, 1 Compass, 1 Hilux e 1 Troller, todos curiosíssimos com aquela peça de museu que parecia, de longe, o mais frágil da turma. 


Dois momentos do Lada com seus colegas de turma



Pé na estrada, que muitas vezes mais parecia mesmo uma trilha, com subidas e curvas apertadas em um terreno muito acidentado. Paisagens deslumbrantes, cachoeiras maravilhosas, sempre com orientações via rádio no caminho para ligar e desligar o 4x4 da turma, tendo cuidado para não danificar o bloqueio e a reduzida. E, diante da desenvoltura do Niva, a curiosidade sobre a engenharia daquele carrinho aumentou e veio a revelação do que quase ninguém sabia: ele é 4x4 o tempo todo e, graças ao terceiro diferencial, pode ter sua reduzida usada sem restrição alguma, tendo a alavanca de bloqueio do diferencial independente da reduzida! 


Foi justamente nos terrenos mais difíceis...


... que a tração integral - 4x4 o tempo todo - surpreendeu os outros jipeiros!





O povo ficou besta com a desenvoltura do bichinho, andando como um carro de passeio onde os outros pareciam não estar tão a vontade. Sonho realizado, foram 932km de sorrisos com a família no carro, terminando com o mais velho declarando que quer um Niva quando fizer 18! 


Diversão em estado puro

Se a medida do carisma de um carro pode ser feita no desejo de um adolescente, o Niva é imbatível aqui em casa! Se estiver na terra, seu habitat natural, melhor ainda.

A família Niva com a Casca d'Anta ao fundo: passeio inesquecível

segunda-feira, 5 de junho de 2017

II RAID CVA-ESTRADA REAL - A AVENTURA DO SOVIÉTICO EM TIRADENTES


A equipe CCCP poucos minutos antes da largada

Quando ficou definido que o CVA-MG, clube do qual sou sócio-fundador, faria seu quarto rally de automóveis antigos (o II Raid Estrada Real, em Tiradentes, em 27 de maio de 2017), decidi escalar o Lada Laika para a missão. Tendo feito três provas a bordo do MGB, com um desempenho brilhante (dois primeiros e um terceiro lugar), era hora de buscar uma experiência diferente. Por contingências da vida, eu havia vendido o meu carro do dia-a-dia um mês antes da prova e vinha usando o soviético na labuta diária, sempre com um sorrisão no rosto, para espanto dos motoristas de Corollas e Renegades que frequentam as ruas da zona sul de Belo Horizonte. Eu já havia decidido que o carrinho merecia uma restauração (ou melhor dizendo, uma repintura, já que seu interior - de fábrica - era absolutamente perfeito), mas queria curti-lo sem maiores preocupações antes da empreitada que, certamente, tornaria seu uso um pouco mais restrito.
Ao lado dos esportivos europeus, como essa BMW 2002 Ti, o russo parecia em casa
Aprovado no uso diário, por que não inscrevê-lo em uma prova de clássicos? Motor com carburação Weber, tração traseira, direção bem direta, câmbio com pegada esportiva… parecia uma ótima pedida! Como estava tudo em dia com sua mecânica, bastou ir. Eu e o Eduardo, meu navegador, já estávamos bem sintonizados, graças ao sucesso em provas anteriores, e a expectativa por um novo bom resultado era grande. A paramentação foi a caráter, com um relógio Sturmanskie no pulso e a réplica da camisa preta do grande Lev Yashin, com os dizeres CCCP no peito, o que causou alguns olhares um tanto hostis, em tempos de intolerância política. Como não discuto política fora dos fóruns específicos para isso e como a maioria dos amigos que estavam no evento sabe que minhas convicções passam bem longe da intervenção estatal, dei pouca bola para os mal humorados e parti para cumprir as médias.


Na largada, muita expectativa sobre como o Lada se sairia em condições de maior exigência

No início, fomos muito bem, zerando alguns PCs e negociando com tranquilidade as ultrapassagens sobre os caminhões, mas, a partir do segundo terço da prova, entendi na prática a diferença de um verdadeiro esportivo para um carro popular. Os freios do Laika sentiram o esforço de uma direção que visava a precisão nas mudanças de média de velocidade e perderam eficiência por superaquecimento, algo que nunca havia ocorrido nas provas com o MGB. O desempenho em trechos de subida também beliscaram os limites do soviético, que urrava para se manter na média estipulada, mas, ao final da prova, sentimos que estávamos no páreo.

Um lindo registro de um momento da prova. Lugar de carro antigo é na estrada! 

Só que uma punição de 600 pontos, por não ter passado em um posto de controle (na verdade, passamos a cerca de 50  m dele), nos tirou da disputa pelo pódio. Se não fosse esse erro, que nos deixou em 18o lugar entre 54 inscritos, estaríamos brigando pelo segundo ou terceiro lugar, prontos para colocar em evidência, para o universo do carro antigo, um veículo de grande valor - histórico e de engenharia - que ainda não encontrou seu lugar entre os colecionadores brasileiros. Mas, como sempre, valeu a diversão.
Nazdarovia!

quinta-feira, 26 de junho de 2014

BRAZIL CLASSICS FIAT SHOW 2014

Como de costume, quem foi a Araxá pôde admirar o brilho das preciosidades que não são vistas em nenhum outro encontro brasileiro, além de algumas peças do ressuscitado Museu Roberto Lee que, aos poucos, vão sendo recuperadas e expostas. Um quarteto de Aston Martin, uma trinca de Bentley e uma dúzia de Rolls-Royce deram um tom britânico aos destaques do evento, que também contou com várias Ferrari clássicas, além da raríssima 225S 1952 restaurada pela própria Ferrari em Maranello. Dignos de registro também foram uma Isotta-Fraschini 1925, já velha conhecida de Araxá, e o Tatra T-87 que pertenceu ao Museu Ulbra. Carros interessantíssimos apareceram também no leilão, como o Lotus Èclat e a famosa ambulância Galaxie 500 que pertenceu à Ford por muitos anos. O Troféu Roberto Lee, dado para o Best of Show, foi para a Bugatti Tipo 57 Stelvio Cabriolet Gangloff 1938 de Oswaldo Borges da Costa. Abaixo, algumas fotos, a maioria delas extraídas do album do Chico Rulez:
"La Tenebrosa", como foi carinhosamente apelidado o Fiat 509S Competizione 1924 dos irmãos Marx

 Cadillac V16 1939 Formal Limousine; há um Coupé semelhante aqui em BH

 Tatra T87 1947,eleito pelo público como o melhor clássico

 O raro Oggi CSS, já comentado aqui no blog em priscas eras

A ambulância que serviu à Ford e que não foi vendida no leilão, apesar do lance de R$ 150 mil

 O Fusca 1969 e a Kombi 1974 do autor; a Kombi foi eleita pelo público como o destaque nacional

A Bugatti campeã

 A Ferrari 225S recém restaurada

 Os escombros do Tucker do Museu Roberto Lee. Originalmente com motor traseiro de helicóptero, esse aí está com V8 dianteiro, chassi e painel Cadillac

BMW 2002 Alpina de pista, cobiçadíssimo no mercado internacional

 A curiosa Mini Van

 O "Horácio", Fusca 1300 1974 do Ervin Moretti, presidente do Fusca Clube do Brasil, recebendo prêmio

 Quarteto de Aston Martin
 Duas Alfas raríssimas: uma 6C e uma Giulia SS

 A réplica do Benz Patent Motorwagen, o primeiro automóvel produzido na história, feita pela própria Mercedes, ao lado de uma 300SL e de uma 220S

O Puma GTE 1970 recebeu o Troféu Fábio Steinbruch como o melhor esportivo nacional

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

BLUE CLOUD 2013 - A ESSÊNCIA DO ANTIGOMOBILISMO

Como pode uma marca descontinuada há 46 anos continuar despertando tanta paixão? Por que um carrinho barulhento, fumacento e beberrão ainda é capaz de motivar 107 apaixonados a colocá-los na estrada, com alguns rodando por mais de 1000 km, para que se encontrem em uma estância no sul de MG? A resposta está no clima de mais autêntica camaradagem visto no XI Blue Cloud, que ocorreu em Poços de Caldas no último final de semana e repetiu a impressão deixada em 2011, na mesma cidade: trata-se de um dos melhores - talvez o melhor - encontro de automóveis antigos do Brasil. A paixão pelos carros, a vontade de trocar informações e experiências a respeito dos desafios de manter os DKW em funcionamento e, principalmente, o clima de inclusão dos que, como eu, não possuem um veículo da marca, não deixam espaço para a fogueira de vaidades que costuma marcar presença na maioria dos encontros de antigomobilistas pelo Brasil afora, com discussões intermináveis a respeito das imperfeições dos carros dos outros e de premiações injustas - aliás, não há premiação no Blue Cloud, um exemplo a ser seguido por outros encontros. Impressionante como, ao lado de figurinhas carimbadas como essa Sonderklasse 1957 da família Witzke, ou o Malzoni II, restaurado pelo filho do seu criador, ou essa Wartburg 311, a cada ano aparecem novidades dignas de tardes inteiras de discussões entre os entusiastas. Esse ano, os holofotes se dividiram entre a Universal 1956 do Flavio Gomes - carinhosamente apelidada de Miss Universe -, provavelmente o décimo carro fabricado pela Vemag  e candidata ao título de carro brasileiro mais antigo conhecido, e o Fissore 1965 do colecionador Marcelo Zeugner, absolutamente impecável e equipado com a raríssima (entre automóveis brasileiros) embreagem SaxOmat, que dispensa o pedal da esquerda para a troca de marchas. No mais, o barulhinho das "pipoqueiras" e o perfume de óleo dois-tempos deu o tom do evento. Faço aqui um agradecimento ao Roberto Fróes, conhecido colecionador do RJ que, muito gentilmente, nos convidou para uma volta no seu Belcar 1961, o mesmo usado na filmagens do clipe Solitário Surfista com Gabriel, o Pensador e Jorge Benjor. Curtam as fotos do que de inédito apareceu no Blue Cloud desse ano.

A Universal 1956 do Flavio Gomes, décima unidade a sair da fábrica da Vemag

O absolutamente impecável Fissore com embreagem SaxOmat

Do lado de lá da Cortina de Ferro e do lado de cá do Atlântico, duas peruinhas com o mesmo pedigree

Belcar (ou Grande DKW-Vemag, já que é de 1960) com a grade dos modelos Auto Union argentinos em um trabalho primoroso de restauração

A DKW foi a maior produtora mundial de motocicletas antes da II Guerra. Depois do conflito, a fábrica ficou do lado comunista da Alemanha e a marca foi renomeada MZ, que cedeu muito do seu DNA para as saudosas Yamaha nacionais, de motor dois-tempos

São raros os eventos de antigomobilismo em que você vê cenas como essa

segunda-feira, 1 de julho de 2013

FUSCA DE LUXO


Em 1965, a Volkswagen lançou, no Brasil, uma versão simplificada do Fusca padrão, chamada Pé de Boi. Segundo o raciocínio da fábrica, o carro teria todas as qualidades de robustez e confiabilidade que fizeram a fama do carrinho, mas seriam suprimidos todos os acessórios supérfluos, principalmente frisos e cromados, para lhe dar um preço mais acessível. A estratégia se revelou um fracasso e a VW entendeu que, diferentemente do que ocorre na Europa (vide o sucesso atual dos modelos Dacia por lá, de aparência muito mais espartana do que os Sandero e Duster nacionais), o consumidor brasileiro não gosta da idéia de comprar algo visto, ostensivamente, como "coisa de pobre". Assim, em 1970, a marca percorreu o caminho inverso ao tentado com o Pé de Boi, dotando o Fusca de motor mais potente, acabamento diferenciado e alguns melhoramentos técnicos, tendo o Fuscão experimentado enorme sucesso, vendendo, inclusive, mais do que o 1300 no mesmo período. Em 1975, a VW estendeu a opção de acabamento diferenciado e bitola traseira mais larga para o motor 1300, criando o 1300L e atingido novo sucesso em uma época em que a economia de combustível era a palavra de ordem. O modelo da foto, da coleção de Flavio Gomes, faz parte das primeiras safras, ainda com parachoques de lâmina grossa, que foram simplificados a partir da linha 1977.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

ESTRELA DE TRÊS PONTAS NO ALTO DO PÓDIO


O término da terceira edição das Mil Milhas Históricas Brasileiras, cujo sucesso já está definitivamente consolidado, marcou o fim do domínio dos esportivos ingleses com a vitória dessa magnífica Mercedes 350 SLC 1973, modelo cuja história já foi contada aqui. Entretanto, se a hegemonia inglesa caiu por terra neste ano, a dupla Rogério Franz e Mário Nardi vai se consolidando como favorita nesse tipo de prova, já que, com a conquista desta edição, se sagraram bicampeões, pois já haviam faturado também a primeira prova a bordo de um Triumph TR4. Parabéns aos vencedores!

quarta-feira, 12 de junho de 2013

A PRIMEIRA VEMAGUET


Como se sabe, o primeiro automóvel reconhecido como genuinamente brasileiro foi a perua Universal, saída das linhas de montagem da Vemag em novembro de 1956 e muitas vezes denominada, equivocadamente, como Vemaguet. Essa nomenclatura para a "Caminhoneta DKW-Vemag", na verdade, só surgiu em 1961, quando a marca vivia seus melhores dias e povoava o imaginário da incipiente classe média brasileira. Junto com o nome, vieram evoluções interessantes como os novos parachoques, americanizados e mais ao gosto do consumidor brasileiro, bancos mais confortáveis e calotas com novo desenho; o motor 1000, em substituição ao 900, já havia aparecido no ano anterior. Vestígios das unidades "pré-Vemaguet" ainda estavam nesse modelo, como os frisos cromados na tampa do porta-malas (que foram suprimidos no sedã nesse ano) e nas calhas e a pintura saia-e-blusa, fazendo da Vemaguet 1961 da foto acima um elo interessante entre a fase pioneira e a maturidade da linha DKW-Vemag. O modelo é o mais novo membro da coleção do Flavio Gomes.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

II RAID DA MANTIQUEIRA - O GRANDE CAMPEÃO


Naturalmente, o Puma GTE 1978 e seu piloto, o brother Paulo Henrique Novo (e seu navegador Felipe Telles, que não aparece na foto), merecem um post só para eles pela vitória incontestável na prova de regularidade, com apenas 31 pontos perdidos. 
Sobre o Puma acima, uma surpresa para mim. Trata-se de um carro tão diferente dos modelos mais antigos, que parece outro projeto quando comparado, por exemplo, ao modelo 1971 que já tive a oportunidade de guiar algumas vezes. Posição de dirigir mais recuada, coluna de direção mais baixa e até a posição de alavanca de marchas mais para trás, além do espaço interno muito superior, graças ao chassi de Brasília no lugar dos de Karmann Ghia dos primeiros tempos, dão uma idéia da evolução do felino brasileiro, que teve as vendas mais expressivas justamente na segunda metade da década de 70, já com o desenho acima.
Voltando ao Raid, mais fotos podem ser vistas na página do Facebook dos organizadores. 

II RAID DA MANTIQUEIRA - CRÔNICA DE UM FIM DE SEMANA INESQUECÍVEL

MGA e seu sucessor ao lado do VW Karmann Ghia e seu sucessor - encontro de gerações

O odômetro do MGB marcava 26794 milhas quando dei a partida na sexta-feira, às 7 da manhã, rumo a Tiradentes, de onde seria dada a largada para os mineiros que participassem do Raid, com destino a São Lourenço. Como moro a 30 km de estrada aberta até o trabalho e uso meus antigos frequentemente na labuta do cotidiano, nenhuma revisão especial precisou ser feita no carro e posso dizer que, graças a essa distância, conheço bem suas manhas e seus limites em situações de maior exigência. Meu navegador também é um velho conhecido desde esta prova, de modo que formamos - carro, navegador e piloto - uma equipe bem azeitada para o que estava por vir.
Mercedes 350 SL foi o mais rápido de sua categoria no primeiro prime

Chegando em Tiradentes, conheci alguns dos meus adversários, todos em carros magníficos, a maioria esportivos puro-sangue, além de um Fusca 1500, um Fiat 500 moderno, uma belíssima F-100 V8 com câmbio automático e o BMW 328 1993 do Roberto Aranha, piloto carioca da mais refinada técnica que, muito elegantemente, levou seu cocker spaniel para se divertir a bordo do clássico de Munique. 

Um pouco da diversidade automotiva vista no Raid; o Porsche veio de Curitiba e levou 3 troféus

Foi também na largada em Tiradentes que tive o prazer de conhecer o Jornalista José Resende Mahar, figura respeitadíssima no meio automotivo e dono de conhecimento enciclopédico a respeito de tudo o que depende de combustão interna. Nos identificamos imediatamente pelo seu fino humor britânico associado ao fato de eu estar com o único representante da terra da Rainha naquela largada e, principalmente, por sermos membros de uma raríssima seita - a de colecionadores de carros antigos que possuem uma Caravan 4 cilindros em seu acervo.
E foi dada a largada!
Jaguar E-Type V12 automático

Eu, o Eduardo e a baratinha íamos muito bem, na maioria das vezes com cerca de 3 ou 4 segundos, no máximo, de erro em relação às referências; apesar de estarmos correndo em estradas com trânsito aberto, a agilidade do MGB me permitiu negociar bem as ultrapassagens sobre veículos mais lentos e manter as médias não parecia lá muito difícil... até que, passados 20 minutos de prova, a chuva resolveu cair pra valer. Para um esportivo dono de uma estabilidade digna de um kart, tudo bem e continuamos no ritmo forte que a prova exigia, mas, com mais uns 30 minutos de chuva inclemente, Joseph Lucas, The Prince of Darkness, resolveu aprontar das suas e uma pane elétrica fez com que os limpadores de parabrisa parassem de funcionar. Mesmo com visibilidade quase zero, eventualmente tendo que colocar a cara para fora do carro e nos ensopando por causa dos vidros abertos, continuamos a mandar lenha, agora sem a mesma precisão do início, mas conseguimos cumprir a prova satisfeitos com o nosso desempenho. Para o troféu de regularidade, estávamos no páreo!
Ao volante, diversão em seu estado mais puro...

No sábado, o sol resolveu dar o ar da graça e, em um dia magnífico, fomos brindados com as provas de velocidade em estrada fechada, os primes. Com um motorzinho de 4 cilindros sem a mesma compressão da sua juventude, o MG não tinha muita chance contra os grandões, mas foi divertidíssimo acelerar o bicho até o limite, chegando, depois de 14 quilômetros da segunda prova, envolvidos pelo cheiro de borracha queimada e discos de freio quase incandescentes, com a certeza de que fizemos boa figura - soubemos depois, que merecemos um mais do que digno décimo lugar.
Foram poucos os muscle-cars no evento, mas o Dodge Charger nacional fez ótima figura

Foi nesse sábado que tive o prazer de conhecer pessoalmente o Paulo Levi, do Adverdriving, a quem devo algumas das fotos deste post, e seu absolutamente maravilhoso Chevette 1975, e o Max Acrísio, que, com seu MGA (seu há 37 anos!), representou, junto comigo, a casa de Abingdon e a tradição dos mais divertidos esportivos do mundo. 
Carros interessantes não faltaram entre os cerca de 60 inscritos, desde os originais impecáveis, passando pelos preparados e até um Fusca com motor Porsche de 6 cilindros 3.6, um Chevette com V6 de Pajero tão bem instalado que parecia original (segundo o dono, até os coxins originais do motor foram aproveitados) e um Gordini com motor VW AP 2.0.
Os dois MGs perfilados aguardando a largada do segundo prime em Dom Viçoso pareciam se sentir em Brescia nas Mille Miglia; mais atrás, o Chevette só observa...

Noite de premiação e o Troféu José Resende Mahar, para a equipe que melhor representou o espírito do evento, veio para nós, graças à pane causada pelo Príncipe das Trevas e que, segundo o próprio Mahar, não foi capaz de tirar nosso sorriso e nosso espírito desportivo. Confesso que me senti emocionado em merecer ganhar um troféu das mãos de figura tão ilustre. 
Duas gerações de Ford F-100, escandalosamente lindas

Outras premiações especiais foram para o Ford T5, de veículo mais raro do evento, para o Porsche 911 de Luiz Leão, que veio de mais longe (Curitiba), e para o piloto mais velho, Jan Balder, no imortal Malzoni das Mil Milhas de 1966. O campeão geral do Raid foi o Paulo Henrique Novo, com o Puma 1978, que perdeu apenas 31 pontos, seguido pela Ford F-100 V8 do André Peon (80 pontos perdidos) e pelo nosso querido MGB (84 pontos perdidos), coincidentemente os três na mesma categoria. Muito sentida foi a ausência do Muricy, que teve um problema de saúde na família e acabou impedido de comparecer na última hora.

Eu, o Max e os MGs, que, por causa do atraso dele na largada, fizeram um lindo pega no segundo prime

De volta para casa, sem nenhum engasgo ou problema maior (felizmente não voltou a chover!), o odômetro do MG marcava 27510 milhas. Foram 1175 quilômetros de sorrisos em apenas 3 dias. Missão cumprida!

De volta para casa com dois troféus e 1175 km de diversão